HISTÓRIA DA DIÁLISE (PARTE 3) DOS PRIMEIROS ESTUDOS DO PERITONEU À DIÁLISE PERITONEAL

A Diálise Peritoneal – um dos tratamentos disponíveis da Insuficiência Renal Crónica – tem, a nível mundial, menos adeptos do que a hemodiálise. A chamada “auto-diálise” é escolhida por cerca de 10% dos doentes renais. Conhecemos a história deste método experimentado pela primeira vez num humano com uremia em 1923?
A primeira referência à cavidade peritoneal pode encontrar-se num dos primeiros tratados médicos, o papiro de Ebers, surgido no Egito por volta de 1550 a.C. A literatura recorda que físicos proeminentes da antiguidade observavam o peritoneu nos abdómens abertos dos gladiadores feridos. Os primeiros anatomistas e cirurgiões descreveram a extensão da membrana peritoneal, mas não a sua função ou estrutura.

Foi preciso chegar ao século XVIII d.C. para acedermos ao conceito inicial da diálise peritoneal. Christopher Warrick, um cirurgião inlês, surgiu com este novo tratamento no início da década de 1740, mesmo que numa fase embrionária.

Drenagem líquido

Em 1877 o alemão G. Wegner levou a cabo as primeiras experiências em animais, de modo a observar os processos metabólicos de transporte em curso no peritoneu. Injetou soluções com várias substâncias a diferentes temperaturas em coelhos e descobriu que uma solução de concentrado de açúcar traduzir-se-ia num aumento de fluído na cavidade abdominal. Estava encontrada a base para a utilização do peritoneu na remoção de fluídos do corpo – a ultrafiltração peritoneal, em suma.

Cerca de vinte anos mais tarde, dois ingleses – o fisiologista Ernest Heny Starling e o cirurgião Alfred Herbert Tubby chegariam à conclusão que a remoção de fluídos, via do peritoneu, era efetuada pelos vasos sanguíneos nesta membrana.

Como e quando chegamos à diálise peritoneal em seres humanos? Há uma tentativa precursora em 1744 que deve ser assinalada. Sob a batuta do fisiologista inglês Stephen Hales deu-se a primeira “lavagem peritoneal” numa mulher de 50 anos com ascite, uma acumulação de fluídos na cavidade do peritoneu. Como? Através da infusão de uma solução de água e vinho (50%-50%) no abdómen, com recurso a um tubo de couro. Acreditava-se à altura que o vinho tinha um efeito antibacteriano. A senhora reagiu de forma tão violenta que a terapia teve que ser descontinuada depois de três tratamentos. Em pouco tempo a paciente recuperou da ascite.

É, porém, na Alemanha, em 1923, que se dá a primeira diálise peritoneal numa pessoa com uremia na Universidade de Wurtzburgo. Quem comanda as operações é Georg Ganter – que via com olhos cépticos a hemodiálise tal como concebida por Georg Haas e Heinrich Necheles. Procura, neste sentido, uma alternativa para o tratamento de pessoas com doença renal. A resposta, encontrou-a no peritoneu, primeiro estudando-o em porquinhos-da-Índia e coelhos.

Uma infusão de um litro e meio de uma solução fisiológica – com a mesma concentração de sal do sangue humano – no abdómen de uma mulher que sofria obstrução do trato urinário. Eis a imagem da primeira aplicação clínica da diálise peritoneal em pessoas com uremia. Se é um facto que o tratamento aliviou os sintomas da paciente temporariamente, também é verdade que esta faleceu pouco tempo depois.

Entre 1924 e 1938, nos Estados Unidos da América e na Alemanha, uma série de equipas realizaram os primeiros tratamentos de diálise peritoneal repetidos regularmente e provaram que este procedimento podia ser um substituto a curto-prazo para a função natural dos rins.

Porcelana, metal, latex e vidro – materiais esterilizáveis – foram os recursos escolhidos nos anos seguintes para garantir condições higiénicas razoáveis durante este tipo de diálise. Ainda assim, este método foi pouco solicitado, especialmente por não haver na altura um método seguro de aceder ao abdómen do paciente.
Um avanço chamado… Catéter

É o catéter que vai resolver o problema da segurança deste tipo de tratamento destinado a pessoas com insuficiência renal. E tivemos na história do século XX três importantes passos na evolução deste instrumento auxiliar. Desde o catéter flexível de Arthur Grollman, de 1952, em contraponto ao tubo rígido utilizado até então, até ao catéter permanente de silicone de Henry Tenckhoff, patenteado em 1968, passando pelo dispositivo desenvolvido por Paul Doolan em 1959, em polietileno.

Nesse mesmo ano, o físico Richard Ruben empreendeu a primeira diálise peritoneal durante um período de seis meses, utilizando o catéter Doolan, bem como um catéter permanente que pudesse manter-se na cavidade abdominal. Esta experiência revelou que os investigadores não estavam apenas apostados em tratar pacientes com doenças agudas, mas também pacientes com falência renal crónica. Porém ainda estávamos na fase da diálise peritoneal intermitente.

Três anos depois o holandês Fred Boen descrevia a primeira máquina de diálise peritoneal automática.

Também em 1964 foi introduzida a “técnica de punção repetida”. Consistia em colocar um novo cateter na cavidade abdominal em cada tratamento, um procedimento desgastante, para o doente.

O catéter permanente de Tenckhoff é introduzido em 1968 e acaba por ser instrumental na aceitação a uma maior escala da diálise peritoneal. Este cateter ainda utilizado hoje em dia.

Como complemento ao catéter, o desenvolvimento de sacos e tubos também acabariam por contribuir para o sucesso a longo prazo deste tipo de tratamento.

Palmer (1980) , Mcbride (1980?) , ISPD (1987)Krediet (2007) , Oreopoulos (2008)

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